quarta-feira, 20 de novembro de 2019

Os baratas de Rwanda

Não, esse post não é sobre baratas, esse animal que muitos acham asqueroso. Mas era assim que os Hutus chamavam os Tutsis, Diziam que era preciso exterminar "as baratas". Baratas essas, em comparação com um animal que causava asco. 

Hoje, 20 de novembro, dia da Consciência Negra no Brasil, vamos lembrar (ou aprender) o que foi Genocídio de Rwanda. 

Antes, é preciso saber que Rwanda, capital Kigali, é um país da África oriental , chamado de país das mil montanhas e atualmente é um país próspero, seguro, com lindas paisagens, cidades muito limpas, crescimento turístico e econômico, com curva ascendente no IDH (216 em 1995 e 158 em 2017). Você não imaginava isso, não é mesmo? 

Mas, em 1994, o país enfrentou um dos episódios mais violentos da História, com mais de 1 milhão de mortos. É o chamado Genocídio de Rwanda. 

O primeiro povo a ocupar a Rwanda foram os Twa e representavam 1% da população. Posteriormente, vieram os Hutus e representavam a maioria. Os Tutsis representavam entre 10% e 15% da população, eram basicamente pastores, enquanto os Hutus, eram lavradores, o que gerava uma diferença de classes entre eles. 

Os Tutsis pertenciam às classes mais elitizadas, mas viviam relativamente bem com as demais. Mas, tudo mudou com a chegada dos colonizadores europeus. Primeiro foi a Alemanha, que dominou a região por pouco tempo. Durante a Primeira Guerra, os germânicos perderam a posse para os belgas, que perceberam a diferença social entre os povos e passaram a usar isso a seu favor. 

Os belgas incitavam o ódio entre as classes espalhando a ideia de que os Tutsis eram superiores aos Hutus por se parecerem mais com os europeus (mas não havia diferença, eram muito parecidos! E mesmo que não fossem) e manipularam a população para que os Tutsis subjugassem os Hutus que  aumentando o rancor e sendo maioria, passaram a governar Rwanda. Por outro lado, um exército rebelde Tutsi que havia fugido para a Uganda, país vizinho, chamado Frente Patriótica Rwandesa (FPR), liderada por Paul Kagame, invade o noroeste de Rwanda e força um tratado de paz com o presidente Hutu, Juvenal Habiarimana, que aceitou o acordo, assinado na Tanzânia. Mas, na viagem de volta, o avião presidencial foi abatido por um míssil (ainda sem solução) e todos morreram. 

O atentado foi atribuído aos Tutsis e isso foi a desculpa para que os Hutus tomassem de volta o poder e começaram o genocídio poucas horas depois da derrubada do avião. Os Hutus, pelos meios de comunicação, eram chamados a matar os Tutsis e esse foi o maior massacre da história africana. 

Era uma violência generalizada. Os Tutsis eram reconhecidos pelo sua identidade, visto que naquele momento, a origem era elemento obrigatório no documento. Amigos Hutus matavam e estupravam seus amigos Tutsis, maridos matavam esposas, Tutsis, vizinhos matavam vizinhos a golpes de facas, pedras e outras armas mais simples. Em três meses, entre abril e julho de 1994, mais de um milhão de Tutsis foram mortos com o aval do governo. Nessa época, estima-se que os Tutsis eram 1,25 milhão de habitantes. 

Mas, a FPR se fortaleceu, avançou no território e venceu a guerra, dando fim ao genocídio. Milhares de Hutus fugiram para os países vizinhos. A FPR promoveu as primeiras eleições diretas para presidente em 2003 e Paul Kagame voltou ao poder e está até hoje à frente da presidência. 

Rwanda teve uma recuperação extraordinária e os termos Tutsi e Hutu foram abolidos dos documentos de identidade, nrgar o genocídio virou crime e começaram os julgamentos. O país investiu em tecnologia, produção agrícola, turismo e infraestrutura, reduziu a pobreza de 59% para 44% e hoje é um dos países mais seguros da África. A economia cresce incríveis 8% ao ano! 

Para saber mais, indicamos o filme Hotel Rwanda, que fala sobre o massacre na capital Kigali. 
Hoje, esse hotel foi recuperado e é um dos mais bonitos da cidade.


E você, sabia dessa história? 
Precisamos aprender e falar mais sobre a história desse continente tão rico e diverso. Além disso, devemos tomar muito cuidado com esteriótipos criados a partir de uma história única. 

"Mas insistir somente nessas histórias negativas é superficializar minha experiência e negligenciar as muitas outras histórias que me formaram. A “única história cria estereótipos”. E o problema com estereótipos não é que eles sejam mentira, mas que eles sejam incompletos. Eles fazem um história tornar-se a única história." 
Chimamanda Adichie, escritora nigeriana. 

TDEx completo da Chimamanda em:

https://www.ted.com/talks/chimamanda_adichie_the_danger_of_a_single_story/transcript?language=pt 






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